Quem são os milhões de brasileiros superdotados?
- Tudo se resume à falta de “identificação” ou “reconhecimento”. Esses são os melhores termos para definir quando se descobre que uma pessoa é superdotada — como a superdotação não é uma doença, não é correto falar em diagnóstico. Mesmo que se considerem as estimativas mais conservadoras e restritivas possível, trata-se de milhões de pessoas no Brasil, sim. A grande questão é que ainda há uma ínfima minoria devidamente identificada.

- O Relatório Marland, referência internacional na área, garante se tratar de 3 a 5% da população em qualquer grupo social, de qualquer raça, sexo ou nacionalidade — já que essa é uma condição que não escolhe gênero, raça, cor ou classe social. Mas é bom lembrar que Joseph Renzulli, atual estudioso do tema, ampliou esse percentual para 15 a 20%, ao enxergar a superdotação produtivo-criativa além da superdotação acadêmica, que era a única vertente considerada até então e está mais relacionada ao quociente intelectual (QI).
- Somente no Brasil, tratam-se de no mínimo 6 milhões, podendo chegar a 40,6 milhões de brasileiras e brasileiros, já que o País hoje conta com 203 milhões de habitantes, segundo o Censo 2022. Mas o desconhecimento sobre a condição faz com que pouquíssimos sejam identificados. Desconhecimento inclusive entre os profissionais das áreas técnicas. Faltam profissionais preparados para fazer o encaminhamento e também o reconhecimento dessas pessoas, tanto em ambiente escolar como dentro da área de saúde física e mental. Ainda são raras as faculdades de psicologia, medicina, fisioterapia e pedagogia que dão considerável espaço ao tema, mantendo o tema nas sombras.
- Somado a isso — e gerado por essa falta de informação — preconceitos e mitos que rondam as altas habilidades impactam de diversas maneiras, de forma negativa. Existem os casos de quem se sabe com altas habilidades e não se assume assim perante a sociedade para não ser tomado por “pedante”. Há quem não divulgue essa descoberta para não sofrer uma pressão extra de ter sempre desempenho superior em tudo, até porque a superdotação não se trata disso.
- Para completar, o Cadastro Nacional, desde sua criação em 2018 pelo Ministério da Educação e Cultura (MEC), não se desenvolve como esperado e se mantém focado no público estudantil. O Censo Escolar divulgou, em 2022, menos de 30 mil superdotados inscritos.
- O livro Deu Zebra! Descobrindo a superdotação foi pensado justamente para traduzir o que é essa condição para o público em geral e quebrar com tabus que impactam a vida de todos que vivem essa realidade ou que convivem com ela.