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Mulheres que movem montanhas

  • Diferentemente do esperado, os estudos sobre a superdotação no Brasil não foram impulsionados por acadêmicos interessados no tema. Foram mães, aquelas que estão sempre em busca da melhor forma de apoiar seus filhos e filhas, que se debruçaram sobre o conhecimento que existia no exterior, já que quase nada era produzido no país na época. Era década de 1990, e a inquietação delas venceu as limitações impostas pela falta de comunicação com o mundo afora. Essas mulheres se encantaram pelo tema e viram que tinham muito para agregar na educação das suas crianças, trazendo benefícios a muitas outras pessoas. 
Foto de NEOM na Unsplash

      • “Foi um garimpo. Sem computador, sem internet, sem Google. Então, lógico, foi um avanço muito mais lento do que hoje, na era da informação”, lembra Maria Lúcia Sabatella, uma das pioneiras nos estudos sobre altas habilidades no Brasil. Era preciso aproveitar congressos internacionais para expandir os conhecimentos, porque a Associação Brasileira para Superdotados (ABSD, criada em 1978 e fechada em 2001), não contava com conexão à Arpanet, os primórdios da internet que interligava núcleos de produção de conhecimento, como centro de pesquisa, universidades, instalações militares e o Pentágono.
       
      • Muito antes de fundar o renomado Instituto para Otimização da Aprendizagem (INODAP), a fim de atender esse público, Maria Lúcia, de Curitiba, precisou lidar com três filhos com superdotação. Seu primeiro filho aprendeu a ler com pouco mais de 2 anos, sua segunda filha já falava várias palavras com 1 ano e o caçula, temporão, também foi identificado. “Eu consegui a tese da Maria Cristina Delou, que fez a primeira dissertação de mestrado nessa área. Uma conhecida minha foi na Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro tirar cópia do material dela para me mandar pelo correio. Não existia nem Sedex ainda. Era complicado. E o trabalho dela foi meu modelo, eu não sabia nem como é que fazia uma dissertação”, conta Maria Lúcia.
       

        • Mais ou menos na mesma época, Susana Pérez Barrera, uruguaia que morava então no Brasil (onde permaneceu por 40 anos), também teve uma filha identificada ainda pequena com superdotação. “Então eu comecei a pesquisar, estudar e me apaixonei pelo tema. Na época eu entrei para a associação gaúcha e conheci outras pessoas que trabalhavam na área, mas ainda não tinha nem pesquisa nesse tema. Eu fui buscar primeiro fora do país”, relata Susana.
         

          • Nesse momento ninguém orientava trabalhos nessa linha, porque os docentes brasileiros não tinham conhecimento sobre a superdotação, que começava a ser chamada também de altas habilidades. Maria Lúcia, por exemplo, aceitou a proposta de uma consagrada psicóloga, que apesar de não entender a superdotação, se ofereceu para estudar com ela. “Essa psicóloga conhecia muito sobre desenvolvimento humano, tinha estudado na biblioteca de Jean Piaget, em Bruxelas, para seu pós-doc, feito lá. Então achei que não podia perder essa oportunidade e me dispus a fazer mestrado”, conta Maria Lúcia.
           

            • As pesquisas em termos de produção acadêmica deslancharam a partir da década de 2000, no Brasil, quando começou a haver uma série de publicações sistemáticas. Foi quando o tema se fortaleceu e, a partir daí, todo ano, novos livros são lançados sobre altas habilidades. O Conselho Brasileiro para Superdotação (ConBraSD) foi criado em 2003. “Na Capes não chega a ter 200 dissertações de mestrado e em doutorado ficam mais próximas dos 50. É muito pouco. É muito pouco para um país que deve ter, no mínimo, 20 milhões de pessoas com altas habilidades”, comenta Susana. Grande parte desse material está voltado para a identificação de crianças no âmbito escolar. E, como Susana gosta de ressaltar: “A educação é prioritariamente feminina.” Sem dúvida, a esmagadora maioria da equipe envolvida com a área educacional é formada de mulheres.
             

              • Apesar disso, e das mulheres terem liderado a busca por conhecimento e aprimoramento na atuação com altas habilidades, elas ainda são menos identificadas do que os homens. Até hoje não são muitos os profissionais preparados para orientar trabalhos nessa linha. Mas o tema já evolui sem depender do empenho quase exclusivo das mães. Não chegam a 10 universidades conhecidas por pesquisas nessa área, no Brasil. Nacionalmente, segue sendo uma área de pesquisa e atuação ainda muito restrita e, ao mesmo tempo, de alto potencial.
               

                  Leia mais: EM BREVE! Por que menos de 40% dos identificados no Brasil são mulheres? 

               

               

               

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