Onde fica o equilíbrio?
- Frequentemente, as pessoas com altas habilidades têm a impressão que seus radares sensoriais, emocionais e mentais trabalham a todo vapor… Elas têm a sensação que sentem mais profundamente, que elaboram mais internamente, que se expressam com mais exultação/entusiasmo do que a maioria das pessoas à sua volta. E toda essa intensidade no sentir, processar e se expressar pode ser percebida como algo negativo.

- A falta de reconhecimento dessa forma aguçada de experimentar o mundo, e de se conectar com os outros, muitas vezes, faz com que as pessoas com altas habilidades não sejam compreendidas. E, por consequência, suas percepções e experiências se vêem, com frequência, invalidadas ou desqualificadas por aqueles que não possuem esse mesmo funcionamento (a grande maioria do mundo à sua volta). Assim podem começar as sensações de desajuste e “desequilíbrio”, particularmente se a pessoa não se sabe superdotada.
- Fica a sensação de que é ela quem “complica as coisas”. Para evitar conflitos e buscar aceitação, ela procura se adaptar, evitando expor suas opiniões e análises, distanciando-se da sua forma natural de ser para se adequar ao seu entorno. E podem mesmo chegar a duvidar de suas próprias percepções e experiências. É como se vivessem em constante gaslighting, para usar um termo hoje bastante conhecido.
- A pessoa que sofre gaslighting experimenta a desqualificação de suas percepções e seus sentimentos (“Você está louca!”, “Isso é coisa da sua cabeça!”); quando reage, acaba levando a culpa (“Você está exagerando”, “Eu nunca disse isso”, “Você é muito sensível”). O mundo não reconhece suas versões dos acontecimentos (“Isso nunca aconteceu”, “Eu nunca disse isso”).
- O termo gaslighting (iluminação à gás) vem de uma obra de teatro da primeira metade do século 20, que depois se tornou filme. A trama contava a história de um marido manipulador que mexia na potência do gás, reduzindo a iluminação da casa, para confundir a esposa. Ela percebia a alteração, mas ele negava e gerava nela o questionamento de suas próprias percepções, insegurança, confusão mental e a sensação de estar sempre fazendo as coisas erradas.
- Embora a sociedade não faça essa “manipulação” de forma consciente, como o personagem, na prática, é assim que as pessoas com altas habilidades – especialmente quando não identificadas – podem vivenciar sua existência, já que os outros não enxergam o contexto da mesma forma que elas e, portanto, negam suas percepções e significados. Como na história do gaslighting, essa dinâmica pode gerar grandes danos psicológicos: insegurança, baixa autoestima, confusão mental, sentimento de inadequação, entre tantos outros.
- A pessoa superdotada não é mais vulnerável emocionalmente do que seus pares. Não obstante, a falta de acolhimento da sua singularidade, a pressão interna para ser aceita na sociedade, que costuma ter dificuldades em lidar com o diferente, e a constante invalidação externa de suas percepções podem desestabilizar o equilíbrio emocional e a autoconfiança das pessoas com altas habilidades, especialmente quando elas não sabem da sua condição.
- Assim, neste setembro amarelo, fica o alerta para o ano todo: descobrir seu modo de funcionamento natural é o primeiro passo para validar suas experiências e percepções, e cultivar sua saúde mental.