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Dupla condição e muita confusão

  • Para entender a “dupla condição” é preciso, em primeiro lugar, superar a ideia de que as pessoas com superdotação são melhores em tudo o tempo todo. Não, os superdotados não nascem sabendo, embora paire sobre eles (e, inclusive, às vezes até dentro deles) uma pressão de que deveriam saber, de não poder errar e de não poder fazer nada que não seja, no mínimo, brilhante. Como qualquer ser humano, as pessoas com altas habilidades têm “problemas”. O termo problemas aqui se traduz em dificuldades, fraquezas e deficiências nos âmbitos cognitivo, emocional e comportamental.
Foto de Christian Bowen, na Unsplash.
  • A prova mais clara disso são os casos de “dupla excepcionalidade”, abreviado como “2e”. As altas habilidades podem vir acompanhadas de certos distúrbios e condições que pareceriam incompatíveis com a concepção idealizada de superdotação. Os graus mais leves do Transtorno do Espectro do Autismo (TEA); Transtornos de Aprendizagem (TA), como a dislexia e a discalculia, e o Transtorno do Déficit de Atenção, com ou sem Hiperatividade (TDA e TDAH), são as combinações mais comuns e estudadas de 2e. 
 
  • Cristina Delou, psicóloga e atual presidente do Conselho Brasileiro para Superdotação – ConBraSD (biênio 2024-2025), é autora do primeiro capítulo publicado em livro (NOME EDITORA E ANO DE PUBLICAÇÃO) que trata sobre dupla excepcionalidade no Brasil — além de ter sido quem publicou também o primeiro artigo sobre superdotação no país. “Eu já estava pesquisando os alunos de alto desempenho do Colégio de Aplicação da Universidade do Estado do Rio de Janeiro e eu já sabia que entre eles havia muitos com problemas de aprendizagem, de todo tipo. Eles não chegavam a ficar reprovados, mas eram problemas ortográficos, de memória, com cálculo ou problemas comportamentais que interferiam na aprendizagem”, relata sobre sua experiência na década de 1980.
 
  • Ela lembra de questionar profissionais sobre sua percepção e não ser nem ao mesmo considerada, como se levantasse uma hipótese sem sentido. Até que descobriu o conceito de dupla excepcionalidade pelo educador norte-americano James Gallagher, um dos que assina o Relatório Marland, documento de 1972 referência até hoje sobre superdotação no mundo. “Ele era um homem de muita sagacidade, era psicólogo, Educador Especial, filho de professora, e criou o conceito”, conta. 
 
  • Durante os anos em que ofereceu avaliação e identificação de forma gratuita, muitas crianças — quase que exclusivamente meninos — chegaram até Cristina Delou, trazidas pelas mães, devido a comportamentos inadequados. E os problemas começaram a ser também referência para a identificação. “A queixa da escola era de que o aluno, apesar de ser muito inteligente, tinha um comportamento conflitante”, pontua. E por que as meninas não estavam nessa leva? “Porque a menina é educada para não ter mau comportamento, para não confrontar, não gritar, não xingar etc”, reforça. O que Cristina chama de “dupla invisibilidade” (tema que fica para outro post). Historicamente, a educação das meninas sempre foi muito mais voltada para agradar: a mãe, o pai, a professora e, depois, o marido, o chefe e os sogros. 
 
  • Na década de 1990, quando o TDAH passou a ser conhecido no Brasil, muita confusão transformou superdotados em pessoas com diagnóstico do transtorno, o que depois seria visto como “falso TDAH”. Mais tarde, no início dos anos 2000, foi a vez de pessoas com altas habilidades receberem diagnóstico de graus mais leves de autismo. Dupla desinformação! Para evitar que novas ondas desse tipo misturem características e comportamentos dos superdotados em sintomas de transtornos, é preciso que a condição se torne cada vez mais bem conhecida pela sociedade. É preciso buscar apoio de profissionais especializados, pois eles estão habilitados a usar as ferramentas validadas pelo Conselho Federal de Psicologia para identificar a superdotação, o TDAH, TA, TEA e outros. Lembrando que uma coisa não necessariamente exclui a outra.
 
Foto de Yanshu Lee, na Unsplash.
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